Cara, me desculpe pela demora - como sempre, na verdade, acabo demorando pra te responder. Mesmo assim estou com uma sensacao boa que queria que voce tambem passasse. Estou no computador daquele colega nosso que vai todo ano para o japao, lembra? Nao consigo digitar ou colocar acentos direito nisso aqui, hahaha.

Mas tudo bem, fica avisado desde ja que esta sera a ultima carta enviada a voce no endereco de Presidente Prudente este ano, tudo certo? Voce sabe o motivo. Porque quero que voce volte realmente rapido e quero que a gente consiga matar as saudades de forma apropriada. Vamos fazer alguns roles do mesmo jeito que faziamos quando estavamos com a galera toda junta. 

Vou se sincero. Nos falamos recentemente. Nao tenho muito o que escrever pra voce. O que te mando sao duas musicas de uma cantora francesa que fui apresentado recentemente e que fez alguns dias ficarem mais valiosos. Se gostar, de mais uma pesquisada. Na minha opiniao, temos uma musica realmente boa aqui. Espero que goste, como se fosse um presente de natal adiantado. Abraco. E aguente...que nos encontraremos em breve. Abraco forte.

http://www.youtube.com/watch?v=hWXVu2caTcs

http://www.youtube.com/watch?v=07nXT4TKeJg
Por tópicos novamente? Não acho que não enfim, alguma coisa.Não sei direito como dizer, mas acredito que em algum momento minhas palavras possam fazer algum sentido.Creio que agora entendo o que você quis dizer há meses atrás, acho também que devo concordar.Acho não, eu sei que concordo.É realmente mais fácil aparentar uma felicidade aos outros, do que sentir-se plenamente feliz consigo, sem precisar provar isso à pessoa alguma.Mas isso é tão questionável, tão questionável nessa nossa condição.Condição de animal, de habitante e Ser de um ambiente maior e muito mais antigo do que os nossos primeiros pensamentos, mais antigo que a pessoa mais antiga que sua mente conseguir buscar de livros didáticos ou lendas e histórias.É questionável o fato do homem querer ser feliz, será que em nossa prepotência perante o resto, temos mesmo esse direito? Eu compreendo o desespero de tentar alcançar todos os nossos desejos nesse pouco tempo que estamos aqui, mas para a natureza toda somos desprezíveis.Mas saindo desse pensamento, que as vezes me pega de surpresa, confio em tuas palavras quando diz que nas mais simples felicidades somos completos.Acredito, de verdade.E são as simplicidades que deixamos escapar todos os dias.As menores coisas, que nos fazem completos, passamos despercebidos por todas elas.

Todos esses seus pensamentos são assombrações em minha cabeça há algum tempo.Quando me comparei a um peixe, quis trazer à tona aquela velha frase "Um peixe fora d'água" que, para falar a verdade, me enquadra perfeitamente.Eu digo de verdade que me sinto cansado, cansado dessa mediocridade que cerca as opniões(que parecem mais reproduções), cerca todas as mentes e, digo isso sem prepotência alguma, pois não me excluo disso tudo, de maneira alguma!Me sinto como um peixe querendo sair disso tudo, mas não há água por perto para que eu possa me mover.Todas essas pessoas que ignoram tudo ao seu redor e conseguem se arrumar, ir a academias, ir a bancos e bares, pegar uma nota de R$5,00 e não pensar por um segundo se quer.Que direito é esse nosso de desligar-nos dos outros, de tal forma, que nem pensamos no fato de que enquanto estamos aqui sentados no computador, curtindo uma música suave, alguém está sendo estuprado, apanhando, torturado, roubado, morto, passa fome e frio, mendiga etc.Esses pensamentos ficam tanto tempo comigo, que a chuva me incomoda.Me incomoda pensar que enquanto eu curto o barulho de chuva para dormir, alguém se incomoda com a água caindo em sua cabeça e não lhe deixa dormir.Entende? Eu sei que parece clichê, escroto no mínimo.Mas é preocupante, e revoltante pensar nas minimas necessidades.O maior desespero está em simplismente não poder fazer nada, e se eu quero continuar vivendo com uma mente sã, devo me juntar às ovelhas, como um peixe disfarçado, e aprender a andar, a pé ou de bicicleta.Por menos adaptada aos peixes que essa bicicleta seja.Peço perdão, por esse tormento.A realidade é que essas palavras não estariam aqui, mas estou simplismente sendo sincero e colocando alguns pensamentos que conseguiram se ordenar.Eu me culpo imensamente por fazer parte dessa massa idiocrática, mas não tenho como escapar.Enquanto eu não tomar as rédeas de minha própria mente e consciência, eu me culpo e aceito minha punição perante a sociedade.

Uma outra coisa.Concordo com você quando disse que é mais fácil sermos felizes através dos sonhos dos outros.É algo que acontece mesmo, acho que só agora compreendi de fato.
Isso me incomoda no fato de que hoje, nós acabamos nos conformando tanto, que sonhamos o sonho dos outros.Nossos objetivos são o objetivo de uma sociedade doentia, e nossas vidas seguem esse molde sem nem mesmo questionarmos.
Desculpe mais uma vez, queria escrever algo feliz para você e para mim, ambos precisamos!Mas no momento seria criar uma ilusão desnecessária.

Depois de muito tempo ou Sobre a felicidade, o relógio e os lamentos

Vou retomar alguns pontos que eu perdi ao deixar de responder teus dois últimos contatos.

Você disse que também acha mais fácil ser feliz para os outros do que para si mesmo.
Quando eu originalmente escrevi isso, estava pensando de outra maneira. Não sei de que maneira você entendeu ou se eu fui claro. Na época o que eu quis dizer era que é mais fácil parecer feliz, tentar ser feliz para os outros. Ou seja, resumindo, é mais difícil admitir para si mesmo que você está feliz, entende? Mais difícil de se enganar e procurar algum outro caminho que o faça feliz de verdade. Hoje em dia, vejo essa afirmação com outros olhos. Veja se consegue me acompanhar: é mais "fácil ser feliz para os outros". Isso quer dizer que é mais fácil atingir a felicidade por meio de coisas que vêm dos outros, que partem dos outros. Não concorda? Assim como é mais fácil ficarmos tristes com estas mesmas coisas. Podem ser coisas simples. Hoje teve uma garota que ao passar por mim, mesmo que tão rapidamente, olhou nos meus olhos e sorriu, como se me cumprimentasse. Eu só falei com ela uma vez, há uns dois ou três meses atrás. Não sei se ela ainda se lembra disso, mas mesmo assim ela sorriu. Eu simpatizei com essa pessoa ao primeiro olhar, mesmo sem a conhecer. E isso é uma coisa pequena, pode-se chamar até de fútil se quiser, mas que traz felicidade. Só que quando olhamos para nós mesmos, sempre é mais difícil entender o que nos faz feliz ou nos faz triste. É sempre mais profundo, mais complexo. E quanto mais simples a felicidade for, mais fácil é de se conseguir. O que você acha disso?

Quanto ao fato de lutar pela felicidade, vou confessar: às vezes cansa.
Mas mesmo assim, se retomar a ideia anterior, é mais fácil lutar pela felicidade do outro. Eu acho, ao menos. Quando projetamos nossas ações, nossas tentativas de fazer sorrir, de fazer entender o que faz bem para todos, tentamos de certa forma, nos tornar melhores. Tentamos transformar alguma coisa. Mudar alguma coisa. E dessa forma, tentamos nos fazer felizes ao mesmo tempo. Talvez seja por isso que eu ligo a felicidade dos outros às nossas. É mais eficiente por que não vai ser qualquer coisa que vai nos abalar. Conseguimos transformar a felicidade de alguns tantos em uma só, uma massa homogênea e interligada. Talvez seja isso que o final do Into the Wild queria nos ensinar, não é? Hapiness' only real when shared. Agora vejo isso muito mais claramente que há alguns meses atrás.

Sobre a pressa e o relógio.
Isso tudo vem, como aprendemos desde pequenos na escola, da Revolução Industrial, não é? Mas para essa tal de Revolução acontecer, o que aconteceu antes? Uma outra revolução dentro de nós mesmos. Pode ser que, naquele ponto, jamais imaginaríamos como as coisas estariam hoje em dia. E mesmo que soubéssemos, não mudaríamos de opinião e continuaríamos em frente, não acha? Essa competição toda parece que vem da falta de tempo. E a falta de tempo foi criada por nós. Como você disse: é tudo ilusório. Não adianta tomar uma posição, competir por algo que não é real. E a maioria luta por coisas que não são reais, nisso tenho certeza que você concorda comigo. Isso é muito cliché, todo mundo reclama e como você também já disse, estão todos conformados. Ou a palavra seria acomodados? Não importa, se mesmo nós que nos incomodamos com isso não sabemos como protestar... Como protestar contra nós mesmos e o que nós somos. A hipocrisia reina e o resto apodrece.

Os lamentos nunca deixam de ter fundamentos.
Tudo o que tentamos externalizar passa a ser algo pertinente. Até as coisas que não conseguimos, que não percebemos, mas que estão ali, presentes na intrínseca realidade do nosso ser existem e lutam pra aparecer. Pra emergir desse rio de merda que as coisas estão hoje em dia. Quantas vezes a gente olha pro lado e pensa: essa pessoa está bem? E conclui que não. Olha pro outro e é a mesma coisa. Atrás, na frente, em todo lugar. Tudo está fora do lugar, não parece? Ou será que somos nós, que estamos deslocados no tempo e espaço? Tuas palavras são dramáticas por que a atmosfera que te cerca também é. Sua percepção é a sua realidade. E se tem alguém que eu posso dizer que pensa em muitas da mesma forma que eu é você. Assim como a metáfora que você criou outro dia para tentar me explicar sua sensação: a de um peixe que tenta aprender a andar de bicicleta.

Aonde está o problema? No peixe que não tem pernas para pedalar e entender a felicidade que ela pode trazer? Ou na bicicleta que não é adaptada ao peixe, não tem tecnologia suficiente?
As vezes penso que isso aqui parou.Está muito abandonado.Há algum tempo.
Sem culpas.É o momento, acredito.
Por um lado, isso é bom.É bom porque assim acredito que as coisas estejam melhorando e já não é mais preciso de um canto de lamentações nesse Mundão perdido.
Vamos escrever novamente.Talvez quebrando as ordens da soma, mas não importa não é mesmo? Dane-se a ordem.Dane-se.
É simples, uma palavra como esta.É simples e muito, mas muito útil mesmo.Talvez seja essa palavra que falte muito no vocabulário das pessoas.
Sabe? Notei, enfim, que algumas pessoas vivem "bitoladas".Ou atoladas, até mesmo.Atoladas com suas caras em livros, atoladas com seus problemas, atoladas com matérias para pôr e entregar em dia, atoladas de tanta falta de tempo para até mesmo respirar.
Até seus pescoços.Tapando seus narizes e seus olhos.É, acho que é por aí.
Essa idéia de que o relógio nunca para, que os dias vão e vão rápido, acelera nossos passos como chicotes às nossas costas.
Algumas pessoas, apressadas, vivem em função de uma competição por um espaço ilusório onde elas podem ser alguém.Algumas pessoas vivem, apressadas, tentando pisar à ser pisado.Vivendo uma hipocrisia atrás da outra, contradizendo através de ações o que as palavras uma vez tentaram firmar.Contradizendo opniões tidas como o topo da cadeia alimentar.
Hipocrisia, por vezes, torna-se, para mim, a palavra-chave do século.
Nós vivemos essa doença.
Sorrisos afogados em falsidade e inveja por todos os lados.Cercando e sufocando.Conformismo.Conformismo.Dormimos sobre ele.
E quando alguém percebe tudo isso...Não muda nada.Porque não há o que mudar.
Mas é assim.É assim que as coisas estão - vê o conformismo?

Enfim, é apenas um rabisco de uma idéia pouco formada.É o esboço de uma revolta interna e externa.
O pior disso, é que o dane-se é apenas uma outra ilusão.É como o dane-se de uma criança mimada que quer apenas esquecer aquilo que não consegue ter.É como o "Nem queria mesmo!".

Enfim, deixa quieto.
Isso é um lamento sem fundamentos.Mas existente e pertinente.Até demais.
Agora, fico aqui.Vou comer alguma coisa e fingir esquecer de algumas mentiras.
Dramático de mais, credo.
É hora.

Começo (2)

Para começar a responder uma carta tão esperada quanto esta, devo começar dizendo que você não precisa e acredito, de verdade, que nunca vai precisar, pedir alguma coisa como desculpas para mim.Fato e ponto.
Porque no final das contas é totalmente compreensível essa travada que a vida nos dá, algumas vezes.É um "chega pra lá" até que necessário, chego a pensar.
Mas enfim, vamos começar a responder tuas palavras mais do que bem vindas.
Espero que no final desta nova carta eu consiga ajudar com alguma coisa, por menor que esta venha a ser, é o objetivo pelo menos, se não conseguir...Bem, aí quem pede desculpas sou eu! Haha, isso também é uma palhaçada, a distância me deixa um tanto quanto impotente nessas situações.
É claro que te entendo, por sermos parecidos e, principalmente, por eu mesmo ser praticamente o criador desse problema de expressão. A primeira coisa que eu tento colocar na minha cabeça é que relacionamentos são difíceis no geral, com qualquer pessoa.
Nossas personalidades e ego chegam a ser tão grandes, que em contato com outras pessoas, essas personalidades chocam-se como ondas, a ressonância as vezes pode ser destrutiva (apenas para completar a analogia). Relacionamentos são sim muito difíceis.
Sabe? Eu penso muito nisso também, o Mundo e sua imposição, até escrevi à respeito disso há algumas semanas no meu blog "anual". Saca? Nós nascemos praticamente com um destino escrito, não por forças Divinas e maiores, mas pelos nossos próximos e pelo próprio sistema. Você vai andar assim, vai sair com essas pessoas, não com aquelas, vai estudar aqui, vai fazer isso e aquilo e parar de pensar nisso. O Mundo é imperativo, de um jeito tão sutil que nem percebemos. Nos enquadramos sem querer enquadrar, e os que tentam tomar um formato mais curvilíneo são tratados como excêntricos e excluídos. Nessa situação excêntricos procuram refúgio com outros semelhantes, porque...Quem consegue ficar sozinho? Leva a loucura, na certa.
Nesse caminho, acredito que é por causa disso que é mais fácil, nas suas próprias palavras, ser feliz pelos outros do que ser feliz para si. Veja, a nossa projeção nessa vida é criada pelos outros, eles estão felizes com isso...Mas o que a gente quer, por vezes deve ficar em segundo plano. bah! Mentira, nem sempre, é verdade. Nós nascemos na geração do egoísmo, isso é fato e está estampado em cada esquina, sobrevive o mais adaptado. Olhamos apenas para o nosso umbigo e queremos que os outros fiquem em segundo plano, é o antropocentrismo evoluído, a adolescência hoje vai dos 10 aos 25 anos, e depois dos 9 anos o ser humano volta passos atrás e pensa como um bebê que se enxerga como o umbigo do Mundo. Mas mesmo assim, acredito que é verdade, é mais fácil ser feliz para os outros do que para si mesmo, ainda acredito que seja pelo fato de que é mais difícil de enganar a nós mesmos. As vezes me pergunto, será que nós temos o direito de brigar tanto assim pela felicidade? Será que nós não somos apenas etapas para uma evolução? Se formos mesmo, não importa nossas vidas, para a natureza, pelo que estudamos, não importa mesmo. Tudo o que importa nessa teoria são os nossos espermas e óvulos.
Essa encruzilhada, de não saber onde estou, para onde vou, acho que também pisei nessa armadilha da crise existencial dos 20 anos. Sabe? Uma agonia de não querer estar aqui e estar lá, de precisar de mais espaço e sentir que essa cidade é pequena de mais, e que estou cercado de cactos confusos. Mas é uma etapa que não dá pra pular. Eu ainda não sei o que fazer, mas assim que souber, te digo! (:
Peço desculpas adiantadas, faz 3 semanas que você escreveu, e talvez seus problemas descritos já tenham sido solucionados, mas mesmo assim quis escrever. Faz falta!
Um abraço, e desejos de melhoras pelos problemas ditos na noite anterior!
Com o rosto molhado e um gosto salgado na boca volto para cá pra tentar te escrever alguma coisa. Acho que te devo alguma explicação. Da última vez que escrevi ("Não consigo escrever nada, etc.") não estava mesmo conseguindo fazer nem isso, nem nada. Estava travado. E ainda estou, na verdade. O jeito vai ser vomitar as palavras e ver no que vai dar. Nem lembro se da última vez que nos falamos te disse que estava bem ou não - faz tanto tempo, não é?

Acho que você consegue adivinhar um pouco como eu estou, já que somos tão parecidos. Estou com tantas dúvidas e apesar de todos que estão em volta tentando ajudar, eu acabo percebendo que o único que pode respondê-las sou eu mesmo. Logo eu, indeciso. Palhaçada...

Vou tentar listar algumas coisas com que eu não tenho estado me sentido confortável ultimamente (quem sabe você não me ajuda a bolar uma solução?): Minhas tentativas frustradas de tentar expor meus problemas com clareza (achei importante começar por esse). Algumas atitudes minhas em relação a algumas pessoas. A maneira como as pessoas se relacionam no geral. Como acho difícil me abrir para as pessoas. Como o dinheiro é importante e essencial. Devemos ter sempre objetivos (por que não podemos, pelo menos por um tempo, não querer realmente chegar em algum lugar?). As pessoas buscam em coisas materiais refúgio para muitos dos problemas. Como o Mundo te impõe uma série de restrições para você não ser excluído dele (e devemos nos submeter a todo esse tipo de padronização). Receios de que não encontrei o que realmente quero e preciso para levar, com alguma dignidade, minha vida. É mais fácil ser feliz para os outros que para si mesmo. Querer chorar em um ombro amigo e não ter ninguém por perto. Querer chorar em um ombro amigo, tê-lo do seu lado e ser incapaz de fazer isso.

Devo ter esquecido algumas coisas (não que sejam de menor importância, mas enfim). Algumas outras, acho que decidi não tratar aqui.

Não sei o que fazer
Não sei para onde ir.

Nem sei se isso é para você conseguir entender ou eu mesmo tentar desvendar o que ocorre nessa crise...
Desculpe,
não consigo escrever.

Mesmo assim, em pouco tempo retornamos aos velhos tempos.